sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Psicopatas: Um Comentário Introdutório

Aqueles que costumam acompanhar a programação televisiva brasileira devem estar razoavelmente inteirados do enredo de A Favorita, a novela das oito, veiculada pela Rede Globo. A trama principal gira em torno de duas irmãs de criação, Flora (interpretada por Patrícia Pillar) e Donatela (interpretada por Cláudia Raia). Flora é portadora de um ciúme doentio contra Donatela, ao mesmo tempo em que tem obsessão por tudo quanto é dela. Após ter cumprido pena de 18 anos de reclusão pelo assassinato de Marcelo, personagem que no passado havia tido um caso amoroso com as duas irmãs, Flora volta ao cenário, decidida a destruir a vida de Donatela e a galgar o posto máximo da fábrica de papel Fontini, presidida pelo seu próprio sogro, Gonçalo Fontini. Para tal, ela manipula situações, forja falsas provas e comete assassinatos; tudo em nome do seu plano maquiavélico de autogratificação e exercício do poder. Flora, contudo, apresenta-se como uma moça pacata, despretensiosa e de bom coração, que cumpriu pena injustamente, mas que está disposta a começar uma nova vida ao lado de sua família. Sua pose de boa menina lhe permitiu cair nas graças de Irene Fontini, sua sogra, e esposa de Gonçalo. Irene, movida pela compaixão despertada por Flora, alberga-a sob seu próprio teto e inocentemente abre todas as portas para a concretização dos planos da vilã.

Quando ouvimos o termo psicopata, logo imaginamos um homem com feições sisudas capaz de cometer crimes hediondos, como estupros ou assassinatos em série. O protótipo do psicopata no imaginário dos brasileiros é Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque, atualmente preso, e assassino confesso de 9 mulheres. A mídia contribui para massificar na população esse estereótipo na população, o qual – embora não de todo errado – é incompleto.

Psicopatas são o que há de mais temível e intrigante nos descaminhos da mente humana. Como Flora, eles são eloquentes, charmosos, sedutores e capazes de cativar rapidamente as pessoas ao seu redor. Além de portadores dessas invejáveis características, esses indivíduos também são insensíveis, frios e com uma incrível capacidade para mentir e para manipular as pessoas, sem qualquer sentimento de culpa.

Conforme o DSM-IV-TR, a característica essencial do psicopata é um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos alheios, que se inicia na infância ou no começo da adolescência e continua na idade adulta.

Ao contrário do que muitos pensam, apenas uma mínima fração dos psicopatas está envolvida em crimes hediondos ou em violência. Na realidade, como veremos adiante, existem graus variados de sociopatia, sendo que a maioria dos sociopatas não comete crimes no sentido estrito. Eles são, entretanto, predadores sociais: deixam atrás de si um rastro de desapontamentos, decepções, desajustes sociais e famílias rachadas. Por outro lado, devido à sua grande capacidade de dissimulação, conseguem se passar por cidadãos comuns que, à vista dos desavisados, apresentam no máximo pequenos problemas de conduta ou mínimas falhas de caráter. A maior parte deles se dedica a atormentar as pessoas e a dar golpes, sem nunca, ou quase nunca, atentar fisicamente contra as suas vítimas. É sobre os que não cometem agressões físicas que falaremos aqui.

Estima-se que 1 a 4% da população são sociopatas em maior ou menor grau, sendo essa proporção a mesma em todos os continentes. No Brasil, cerca de 5 milhões de pessoas são portadoras desse distúrbio, sendo que, de cada 5 indivíduos acometidos, 4 são homens e 1 é mulher.

Apesar do aparente baixo percentual de pessoas com essa entidade, não devemos subestimar o mal que esses indivíduos podem impingir à sociedade. Dr. Hare diz: “Considere que a prevalência da psicopatia em nossa sociedade é mais ou menos a mesma da esquizofrenia, sendo esta última uma devastadora desordem mental que traz consigo uma experiência extremamente traumática tanto para o paciente quanto para a família. Entretanto, a dimensão do trauma associado com a esquizofrenia é pequena, se comparado com os estragos pessoais, sociais e econômicos causados pelos psicopatas. Eles formam uma rede bastante ampla, e quase todo mundo cai nela de uma maneira ou de outra.”

A personalidade cativante e ao mesmo tempo perniciosa desses indivíduos pode levá-los a posições de destaque na sociedade, transformando seus liderados em vítimas potencias. Na política, psicopatas emergem muito freqüentemente como os "salvadores da pátria”. São pessoas que fingem um patriotismo vigoroso e estão sempre cheios de planos descabidos, que compõem as promessas para iludir os eleitores. Normalmente, criam um padrão de comunicação verbal e visual peculiar e fazem promessas que, se observadas cuidadosamente, são impossíveis de serem cumpridas. Munidos dessas características, eles são eleitos, e passam a enriquecer às custas da exploração insensível do povo. Salas de aula e agremiações religiosas são outros exemplos de ambientes onde a ação dos sociopatas pode florescer sem grandes impedimentos.

Um comentário:

  1. Tenho um irmão sociopata ou psicopata como queiram, mas acredito que em grau menor. Praticou pequenos furtos na adolescência, é agressivo e irritadiço, perturba constantemente a família, é extremamente charmoso e convincente, vive cercado de pessoas, mas perdeu todos os seus amigos, não trabalha com regularidade (por vontade própria e por ausência de disciplina) e não cumpre nenhuma obrigação social, desde votar nas eleições até pagar a pensão do filho. Está arruinando sua própria vida, além da vida daqueles que com ele convive e não há o que podemos fazer para ajudá-lo. Muito inteligente engana a todos, ameaça e pratica pequenas agressões contra mim e contra meus pais. As pessoas de fora não agride, pelo contrário, trata com muita amabilidade jogando seu charme para convencer a todos de que é um ótimo sujeito. Basta se aproximar emocionalmente dele para que ele arruine sua vida.

    No inicio quando comecei a descobrir entrei em parafuso... como pode haver em minha família alguém assim???...
    Agora passo a entender, o mal é inerente à existência humana. E não é necessário ter compaixão para com ele. Apenas posso compreender que há a possibilidade de pessoas simplesmente "serem assim". Não houve abuso na infância, nenhum trauma irremediável, nada. A sociedade é meio louca, cria valores absurdos de extremo consumismo e de falta de valorização e respeito à pessoa, mas não justifica um comportamento persistente de egoísmo, agressão e má conduta.
    Acredito que essas pessoas só a vida corrige e o melhor mesmo é ter compreensão, identificar esses sujeitos e se proteger como for possível, principalmente, buscando não ter envolvimento emocional, com eles.

    Força a todos que conhecem pessoas assim...

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